'Morreu inocente', diz advogado de acusado no caso Celso Daniel

Para Roberto Podval, empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, perdeu dinheiro com a morte do amigo e adoeceu após acusação considerada injusta

Dezessete anos depois, a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, coordenador do então candidato Lula à Presidência em 2002, ainda provoca dúvidas e divide opiniões sobre a verdadeira motivação do crime. Porém, o advogado Roberto Podval, defensor do empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, processado como mandante da morte do político, considera que uma grave injustiça foi cometida.
O caso foi investigado pela Polícia Federal e Polícia Civil de São Paulo, que concluiu se tratar de um caso comum de sequestro e morte — um crime de oportunidade. Já o Ministério Público considerou o assassinato um crime de mando que tinha como pano de fundo a corrupção na prefeitura na cidade do ABC e, desta forma, ofereceu a denúncia à Justiça.
"O ponto mais objetivo para mim é que todo crime tem que ter uma razão. E a pergunta que faço é: qual seria a razão do Sérgio para matar o Celso Daniel? A importância do Sérgio, politicamente, economicamente, socialmente, se dava pela proximidade e amizade com o Celso Daniel. Tanto que depois [do crime], o Sérgio desapareceu da vida pública. A ligação dele não era com os personagens do PT. Matar o Celso para ele seria se matar politicamente", argumenta.
Roberto Podval obteve a anulação de parte do processo após impetrar um recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o posicionamento do juiz responsável pelo Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, de não permitir que a defesa acompanhasse os interrogatórios dos corréus e fizesse perguntas aos acusados.
No entanto, a suspeita de ser o mandante da morte do melhor amigo teria cobrado um alto preço e deteriorado a saúde do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que morreu em 2016, vítima de câncer. É no que acredita Podval, criminalista que atuou na defesa de outros réus em outros casos de repercussão nacional, casos do casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá (condenado pela morte da menina Isabella) e do ex-ministro José Dirceu. 
"Não tenho dúvida de que a doença se passou [por causa da acusação], porque ninguém passa por isso incólume. Foi péssimo. O melhor amigo e o ídolo dele era o Celso Daniel. De repente, o cara morre e ele passa a ser o acusado. Para ele, foi a morte. Era incompreensível. O que o levou à morte foi isso. Qualquer outra coisa ele suportaria. Mas, ser acusado de matar o melhor amigo que tinha, o destruiu", enfatizou Podval.
O defensor fez questão de destacar que o empresário estava livre à época da sua morte, beneficiado por um habeas corpus, pois o Supremo havia anulado a condenação e determinado que o processo voltasse à fase inicial de depoimentos de testemunhas e acusados. "O Sérgio nunca chegou a ser condenado. Anularam o processo. Morreu inocente", afirmou.
Roberto Podval acredita que Sérgio Gomes da Silva tenha sido acusado por ser a única pessoa ao lado de Celso Daniel no momento do sequestro na rua Antônio Bezerra, conhecida como rua dos Três Tombos, no bairro do Sacomã, zona sul de São Paulo. Eles estavam no caminho de volta do restaurante onde ambos haviam jantado, no bairro dos Jardins, em São Paulo, para Santo André.
O criminalista entende que as diferentes versões apresentadas por testemunhas sobre a abordagem dos criminosos ao veículo de luxo, no qual estavam o político e o empresário, além do próprio nervosismo de Sombra no primeiro depoimento à polícia, foram decisivos para aumentar a suspeita das autoridades.
IN R7 BRASIL
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