Águas, sóis e beijos… muitos beijos no lançamento do livro de Ivone Soares

Amor, chega-te a mim, por favor, que é para todos verem que tenho bons gostos”. O noivo da Ivone Soares, na primeira fila no acto da apresentação do livro Salpicos de águas e sóis – meu eu poético, levantou-se todo encabulado. Sorriu sem alternativa, como se dissesse: “– Amor, pegaste-me desprevenido”.
O noivo da Ivone Soares, que é mesmo valente, deu uns passos rápidos e logo chegou aos braços da poetisa, deputada em outros contextos. Quase não disse nada. Ivone Soares provocou-lhe. Divertiu-se com a situação do noivo embaraçado, aparentemente não habituado aos holofotes. Ficou claro, ali não era a deputada a falar, mas a amante da literatura, tão cintilante como nunca antes se viu.
Ivone estava no seu dia, contagiante, espalhando alegria para todos que foram ver a cerimónia de lançamento da sua obra literária de estreia na Minerva & Continental. Dois amores com ela: o livro e o noivo. O primeiro deve ter ficado com inveja, porque a autora apenas encheu de muitos beijos o segundo. Tudo isto num ambiente animado e, claro, literário, daí o “senhor noivo” não ter resistido ler um poema da autora. Deve ter-se arrependido, pois, logo depois da leitura, a poetisa chamou-lhe de folga à ribalta para revelar que o texto tinha sido escrito num dia em que o seu homem deixou-lhe em lágrimas. “Este poema escrevi naquele dia que me deixaste só. Lembras-te?”. Na dor, portanto, nasceu o poema.
Revelações à parte, o livro de estreia de Ivone Soares foi lançado quarta-feira à noite, no contexto da 83ª Feira do Livro da Minerva. Salpicos de águas e sóis – meu eu poético reúne textos escritos lá mais para a adolescência da autora e mais recentemente. Neste exercício, a afamada deputada descobriu em si diversos sujeitos poéticos dentro dela, os quais configuram uma Ivone que assume ser a real. São essas entidades que agora, sob a chancela da Minerva, são partilhadas com os leitores convidados e percorrer a pena de uma voz feminina que quer dialogar com tantas outras.
Salpicos de águas e sóis não surgiu do nada. É fruto de trabalho, sonhos e convicção. Mas também acontece graças a várias pessoas que acreditaram e contribuíram para que fosse lançado na cidade de Maputo. Além de familiares, amigos e gente mais chegada, os agradecimentos de Ivone são extensivos os confrades, nomeadamente, o angolano Lopito Feijóo (autor do prefácio), o poeta Luís Cezerilo e Mia Couto, quem, sobre o livro, comentou: “Surpreendente e inovadora Ivone Soares usa, como ousadia e humor, um lirismo intimista para subverter o nosso quotidiano moderno, urbano e tecnológico”.
Com uma tiragem de 300 exemplares, o livro possuindo 80 páginas é de verso breve, oscilando entre a curta e longa estrofe. Sobre a escrita da moçambicana, a certa altura o poeta mangolê avança: “o lirismo e o épico, volta e meia, aqui confundem-se acontecendo em jeito de salpicos de águas e sóis, sempre na esteira das muito boas tradições e da grande poesia moçambicana, situando-se entre uma Glória de Sant’Anna que não sendo natural de Moçambique é uma das mais importantes vozes da poesia moçambicana”, escreve Lopito Feijóo no prefácio.
Na cerimónia de lançamento apresentado por Calane da Silva, na Minerva & Continental não faltaram escritores e poetas que pagaram pelo livro. Todos ansiosos em lê-la, inclusive, deixaram-se fotografar com a poetisa, depois dos autógrafos por ela cedidos, assinados para a posteridade. São os casos de Ungulani Ba Ka Khosa, Armando Artur e Juvenal Bucuane.
Portanto, volvendo ao momento em que Ivone Soares apresentou o noivo, a poetisa rematou: “E então, tenho ou não bons gostos?”. Na Minerva & Continental ouviu-se um coro: “temmmmm”. E Ivone voltou a brincar: “Esses que dizem sim querem convite para o casamento”.
 IN O PAIS
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